quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Sobre velar

"Vela, ó Senhor amado, com os que trabalham, vigiam ou choram esta noite. Manda que teus anjos guardem os que dormem. Cuida dos enfermos. Cristo Senhor, dá repouso aos cansados, abençoa os moribundos, consola os que sofrem, compadece-te dos aflitos, defende os alegres. Tudo isto te suplicamos somente por teu grande amor. Amém."

Livro de Oração Comum.

Recentemente li um livro que me apresentou algo que é aparentemente bem conhecido, mas que para mim foi novidade: as Completas. As Completas são orações prontas que fazem parte de um livro Anglicano chamado Livro de Oração Comum. Como o próprio nome já diz, o livro contém uma série de orações prontas que são feitas nas liturgias anglicanas. Eu tenho muito interesse em ler sobre oração, e etc, mas confesso que pensar em orações prontas me causava uma certa estranheza. Sempre pensei que orações prontas não poderiam ser sinceras, uma vez que não brotaram do seu coração e sim de outra pessoa, e o máximo que poderia te proporcionar era uma comoção poética, por ter sido bem escrita. Mas, algo mudou dentro de mim quando eu li esse trecho citado acima pela primeira vez. Pareceu tão profundo e tão sincero, que eu quis fazer essa oração. De uma forma simples e sintetizada, incluía todos os pedidos que eu precisava fazer, porém não encontrava palavras para expressar. É interessante pensar em uma oração em que se pede para alguém velar por ti. É um clamor sincero, é um pedido honesto e desesperado. É confortador poder pedir para que o Senhor vele por mim.

Equinócio de Primavera da minha vida





Confesso que não estou vivendo os meus melhores dias. Estamos finalizando o nono mês do ano e eu já posso colecionar situações ruins e péssimas o bastante para encerrar 2015 por aqui mesmo. Mas não é assim que a vida funciona, a roda gigante não para, e eu como a pessoa otimista/pensamento positivo/don't worry be happy que eu sou tenho que seguir a vida e lidar com as peripécias e desolações que ela me traz diariamente.
Eu moro em um país quente, muito quente. Nossos invernos jamais deveriam ser chamados de invernos, pois sempre ultrapassam facilmente os 30º C. Para dar uma intensificada, eu passei duas semanas do inverno em um dos estados mais quentes do Brasil. Inclusive, nesse momento, estou com o ventilador apontado para a minha face, implorando por um pouquinho de refresco antes de a secura do tempo me desintegre. Dramas à parte (e apesar do fato que as estações mudam porém quase nada muda) hoje ocorreu o Equinócio de Primavera. O dia durou exatamente o mesmo tempo que a noite durará. O planeta Terra estava em uma inclinação quase perfeita. Hoje é 23 de setembro, e é primavera. Não temos muitas flores por aqui, mas temos ipês amarelíssimos floridos em meio a um monte de secura brasiliense. Não temos muitas árvores e folhas verdes, mas temos um céu reconhecidamente maravilhoso, sem nenhuma nuvem. Nem mesmo aquela pequenininha, do tamanho da mão de um homem.
Hoje é uma data peculiar por vários motivos. Peculiar, eu disse. Não especial. Peculiar apenas. Cheia de históricos bons e ruins. De lembranças agradáveis e outras do tipo que eu prefiro que deixe de ser lembrança e seja jogada no mar do esquecimento. Mas o que vale falar é do equinócio. A palavra chega a ser tão bonita quando o efeito. E faltam menos de três meses para o final do ano. Eu sou uma fã do final do ano, sou totalmente a favor da sazonalidade de Natal e Ano Novo e totalmente viciada em chuva. E o que acontece na capital desse país no período de novembro a fevereiro? Chove! Saber que o equinócio de primavera chegou me enche de esperança de que não vai demorar para a chuva começar. 
Enquanto a chuva não chega, eu continuo aqui. O calor provocando a minha inércia. Algumas decepções alimentando os meus já problemáticos "trust issues". A miserável sinestesia que me faz achar que tudo que é vermelho tem gosto e cheiro de morango, e a ansiedade que eu insisto em não depositar em quem é maior que eu. 


Desculpa qualquer coisa.



"Les temps sont durs pour les rêveurs." 

Dúvidas aleatórias 1.

Como as pessoas nos enxergam depende exclusivamente de como nos apresentamos ou da forma como as pessoas decidem nos olhar? Primeiras impressões são tão importantes assim? Elas ficam mesmo? O que acontece de tão grandioso que rejeição pode virar empatia e uma conexão imediata pode ser quebrada em uma única atitude? Porque saudade é considerada um sentimento bom quando na verdade é um sentimento que dói? Por que o ser humano quer ser desapegado sabendo que isso só te impede de abrir seu coração para a próxima oportunidade? Por que em Brasília o clima é tão seco? Por que amamos tanto o futebol? Por que o Brasil tinha que ter sido colonizado por Portugal? Quanto tempo o WhatsApp vai durar? Será que todos os meus amigos serão pais? Será que eu consigo crescer pelo menos mais uns 3 centímetros? Por que damos tanto valor a primeiras impressões? Por que nos envolvemos com gente que claramente não presta? Como tem gente que pode bater no peito e dizer que é bom? Existe alguém que nunca foi amado pela forma humana de amor? É possível amar animais e ter medo deles? É possível dividir tristeza? Como sempre ficar feliz pela felicidade do outro? Será um dia possível voltar no tempo para apagar ou consertar erros da vida? Seríamos nos capazes de consertar algo que nós mesmos quebramos? Como ter uma pele saudável pelo resto da vida? Como relaxar e não deixar o medo nos impedir de viver ou de dormir uma noite inteira? Como acreditar que sou maior que meu corpo quando na verdade tudo o que faço só aponta para o quao pequenina eu sou?

O milagre na rotina de nossos dias


Acabei de chegar de viagem. Passei sete dias no Nordeste, visitando diversas praias, acompanhada de minha família. E eu sou grata a Deus por essa viagem. Essa viagem me falou muito a respeito do que Deus pode fazer por nós. Essa viagem tinha tudo para dar errado. Poderia ser recheada de brigas desnecessárias, discussões tolas, gritos, desacordos e irritações. Na verdade, eu tenho certeza que seria assim, se Deus não tivesse intervido. O Senhor teve misericórdia de mim, do meu corpo e da minha mente, e me proporcionou sete dias de puro remédio e descanso. Muito embora não seja claro para os outros, eu sei que foi um milagre. Eu sei que o Senhor atendeu às minhas orações e trouxe paz, boa sorte e prosperidade. Trouxe também união. Trouxe reflexão e pedidos de perdão da minha parte. Trouxe uma nova esperança de que algum dia as coisas possam ser melhores do que um dia já foram ainda aqui, nesse mundo passageiro. Sete dias de viagem pareceram 1 mês inteiro. Ao final, estávamos todos cansados, querendo nossas camas. Porém felizes e satisfeitos. Que o Senhor me ensine a sempre enxergar o milagre onde as pessoas acham que possuem algum mérito. Abrir os olhos e ver a mão de Deus trabalhando no temperamento e na forma de encarar cada situação com sabedoria e domínio de ações.




Sentir-se amado

Eu nunca me senti tão amada pelos que realmente importam do que o quanto estou sentindo agora.
É estranho falar sobre isso, mas é importante entender o tempo de cada coisa. Não seria quando eu queria, mas sim quando eu tive necessidade, e então as evidências surgiram.

É agora mesmo.
O amor encaixa direitinho.

Deus é bom.

Isabel e Eduardo

Isabel tem um melhor amigo chamado Eduardo. Isabel e Eduardo conversam praticamente todos os dias, há cerca de cinco anos, e em sua maioria via sms, já que com as suas vidas corridas, não conseguem se encontrar sempre. Eles amam escutar rock e grunge, ler quadrinhos e assistir animações da DC Comics e Marvel, criarem discussões filosóficas sobre o significado do instrumento musical de um certo cantor estar sempre quebrado e coisas do tipo, e principalmente, amam fazer piadas um com o outro sobre suas próprias  mirabolantes vidas. Antes de virarem amigos, Isabel sabia que Eduardo era apaixonado por ela. Ele era um rapaz muito tímido, quase não falava; mas ela sempre percebeu seu 'jeito sem jeito' perto dela.  Na época da escola, quando tinham  14 anos, Isabel sempre estranhou o fato de Eduardo andar com um grupo de pessoas que em nada se pareciam com ele. Esse grupo gritava, ria de coisas estranhas, falava besteiras e Eduardo não era assim, pelo menos não quando ela estava por perto. Sendo bem sincera consigo mesma, Isabel achava Eduardo um cara estranho. Meio desajeitado para andar, hesitante para falar, e sempre tão tímido. Se tinha uma coisa em Eduardo que Isabel gostava era seu cabelo. Sempre molhado, arrepiado, quase preto. Era diferente de qualquer penteado que ela já havia visto. A amizade começou assim, com Isabel simplesmente dizendo o quanto gostava do cabelo de Eduardo. E foi somente disso que ele precisou para deixar Isabel grudar nele, como um chiclete de seu sabor favorito. Eduardo sempre enviava mensagens de sms para Isabel, com assuntos que sempre viravam grandes papos e grandes risadas. Mas quando Isabel chegava na escola e tentava comentar sobre os assuntos virtuais olhando nos olhos, Eduardo não conseguia ser tão aberto. Isabel entendia o porque. Então ela deixou estar. Anos se passaram. Isabel nunca achou que uma conversa via internet, mesmo que constante, fosse o suficiente para manter qualquer coisa. Eduardo  passou a ser mais conversador, mais extrovertido, mais olho no olho, mais homem sério e menos menino tímido. Em suas conversas diárias, Eduardo a tratava como uma irmã, e claramente se esforçava para ser um "brother". Mas em seus encontros anuais, ou as vezes e com muita sorte semestrais, Isabel percebia naquele rosto agora adulto, o mesmo olhar do menino apaixonado por ela quando tinham 14 anos. As vezes, em meio a uma gargalhada, percebia que ele segurava sua mão com uma leveza diferente. Percebia também que ele não a olhava como uma garota, mas como uma mulher. Isso não deixava Isabel incomodada, afinal, ela sempre soube do efeito que causava em Eduardo, e que qualquer movimento errado ou certo poderia mexer com aqueles momentos. Ela era cuidadosa, e tentava ser engraçada, brincalhona, desajeitada, bem ela mesma, bem sem charme e cerimônia. Mas, parecia que todos os esforços de Isabel em ser não charmosa, não sexy, não linda e não radiante nunca funcionaram. A cada palavra, Eduardo aparentava mais apaixonado. Em vista de toda essa situação, Isabel sempre se perguntou porque Eduardo nunca revelou seus sentimentos. Porque Eduardo insistia em fingir que a via como uma irmã, quando ela sabia claramente que ele sempre estava se segurando para beijá-la onde quer que estivessem. Até quando ele aguentaria ser apenas amigo de alguém que o fazia falar como um bobo e não conseguir disfarçar? Isabel refletia muito sobre isso. Talvez se a vida tivesse desenrolado de uma maneira diferente, e ela e Eduardo pudessem se ver todos os dias, será que ele finalmente soltaria esse fôlego e diria que sempre expia as suas fotos? Será que ele admitiria que ela é a mulher mais linda que ele já viu? Será que ele pararia de fingir que não se importa e ofereceria junto de seu ombro amigo um coração quente para Isabel ser carregada?
As vezes Isabel ficava com raiva. Ela não estava sendo esnobe. Eduardo era seu amigo. E ele certamente vivia em um conflito sentimental há anos. Isabel sempre soube o que Eduardo sentia. Isabel sempre soube que Eduardo sempre quis seu afago. Sempre soube que ele jamais encontraria alguém como ela. Que, se fosse pensar na possibilidade, seriam sim um bom casal. Na verdade, que ela seria o melhor tipo de mulher para ele. Eduardo sempre foi um dos motivos que fazia Isabel refletir sobre o quanto a timidez pode frustrar os planos de alguém.  Ele poderia ser feliz com ela. Mas ele se contenta em ter apenas uma amiga.  Quanto aos sentimentos de Isabel, ela preferia não pensar a respeito. . Ela apenas não gostava de pensar na ideia de uma vida sem Eduardo. Ele fazia bem. Ele a deixava confortável. Ele também não tinha mais 14 anos. Ele já era um homem. Isabel para sempre tinha marcado a vida de Eduardo. E Eduardo, bem, ainda luta e reluta, no medo de perder tudo o que construiu, mesmo não sendo o suficiente para si.

Nem por isso deixam de se divertir. A vida tem dessas coisas.  Isabel e Eduardo são sim melhores amigos.

domingo, 22 de agosto de 2021